preconceito linguistico
A qualificação de certas atitudes como preconceito linguístico se baseia em diversas teses. A principal, mãe de todos os desdobramentos, é que haveria línguas primitivas, cujos falantes seriam incapazes de realizar determinadas operações mentais (faltaria clareza ou precisão), seriam incapazes de proceder a certas generalizações (suas línguas não teriam termos abstratos), seu conhecimento do mundo seria precário (expressariam seu ‘conhecimento’ em classificações confusas) etc. Enfim, certos povos (sempre os outros) seriam inferiores, e uma das razões, ou um dos reflexos, seria sua língua.
A tese de que há línguas primitivas tem uma descendência clara no domínio da variação: dialetos populares teriam defeitos análogos aos das línguas primitivas. Só a comparação é outra: no primeiro caso, com as línguas ditas civilizadas; no segundo, com a norma culta.
Já que o preconceito consiste em considerar alguém ou algum grupo inferior ou incapaz (mulheres para os homens, negros ou indígenas para os brancos etc.), a analogia em relação à diversidade das línguas se aplica quase automaticamente: os diferentes são portadores de defeitos.
Ora, qualquer tentativa de provar que tais línguas são primitivas esbarra em fatos incontornáveis. Vejamos alguns fatos que contradizem os principais preconceitos:
(a) sobre a propalada ausência de termos abstratos em línguas de ‘selvagens’, Lévi-Strauss apresenta diversos contra-exemplos, dentre os quais um do chinuque, língua em que traduziria “o homem mau matou a pobre criança” por “a maldade do homem matou a pobreza da criança”;
(b) sobre línguas ‘evoluídas’ deverem ser claras (o que implicaria que fossem flexionais, como o latim e o grego, e, em grau menor, as línguas românicas), basta considerar o caso do inglês, que praticamente não tem flexões; ‘you are’ pode significar ‘você é’, ‘tu és’, ‘vós sois’, ‘vocês são’, ‘o senhor é’, ‘os senhores são’;
(c) se um dialeto fosse obscuro por ter poucas