Porque
Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.
Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.
Sophia de Mello Breyner Andresen
Análise Formal
O poema tem 4 estrofes e 3 versos.
A primeira estrofe tem 4 versos, logo é uma quadra. As restantes estrofes tem 3 versos, logo é um terceto.
Há uma comparação e uma antítese em ‘’outros’’ e ‘’tu’’.
Tem uma metáfora em ‘’á sombra dos abrigos’’.
Os ‘‘outros’’ são: falsos, maldosos, mentirosos e hipócritas.
O ‘’tu’’ é: sincero, feliz e livre.
Sophia de Mello Breyner Andersen nasceu no dia 6 de Novembro de 1919 no Porto e faleceu em Lisboa no dia 2 de Julho de 2004.
A poesia de Sophia está profundamente marcada pela sua infância e juventude, por valores como justiça e, pelo contacto com a Natureza, muito especialmente com o Mar. Publicou mais de duas dezenas de livros de poesia, devendo ser considerada como uma das maiores e mais eloquentes vozes da poesia portuguesa contemporânea.
Há nela uma sensibilidade, que só pode ser apreciada de modo global, ou seja, pela leitura da sua obra poética.