Por que as empresas são menos propensas a investir em P&D no Brasil
Há consenso em vários segmentos sociais e em diferentes níveis de governo de que um dos principais problemas para a ampliação da capacidade de geração de inovações tecnológicas no Brasil é o débil engajamento das empresas industriais e de serviços com atividades tecnológicas. De acordo com as informações da PINTEC/IBGE, o setor industrial despendeu cerca de 3,7 bilhões de reais em P&D interno e cerca de 630 milhões de reais em P&D contratado externamente, no ano de 2000. Somados, esses valores corresponderam a 0,37% do PIB brasileiro naquele ano. Embora se valendo de fonte distinta (base ANPEI) e, portanto, a rigor não comparável, esse valor não representa variação substancial em relação ao que foi apurado pelo MCT para o ano de 1999 (0,33% do PIB) e publicado no Livro Verde de Ciência, Tecnologia e Inovação. Essa mesma publicação indicou que, em 1998, na Austrália o gasto em P&D das empresas correspondia a 0,7% do PIB, enquanto que, na Coréia do Sul, o gasto equivalente era de 1,8%.
Este artigo procura discutir alguns dos fatores determinantes da pequena participação das empresas privadas brasileiras em atividades de P&D, internas ou contratadas. É resultado da visão desenvolvida pelo autor com base em sua atividade de pesquisa junto a empresas e associações empresariais. A atuação do poder público nessa questão exige a compreensão adequada da conduta das empresas, já que há uma racionalidade para o seu comportamento atual e é importante evitar tratar o problema a partir da busca dos "culpados".
Os principais fatores que determinam a baixa propensão das empresas brasileiras para realizar dispêndios em P&D são de duas ordens: de um lado, fatores ligados à gestão macroeconômica, e que afetam as decisões de investimento em geral; de outro, fatores de ordem microeconômica e mais permanentes. Os condicionantes de ordem macroeconômica são os mais freqüentemente apresentados pelas empresas e entidades