Poetar e filosofar
O que é dito através do poema e o que é dito através do pensamento não são de nenhum modo idênticos. Entretanto, um e outro podem, de maneira diferente, dizer o mesmo. Mas isto só se alcançará se o abismo entre poesia e pensamento se abre pura e decididamente Heidegger, in “A origem da obra de arte”.
Na cultura ocidental, herdeira da tradição Greco-romana, a racionalidade lógica, pautada no raciocínio abstrato e conceitual, firmou-se como saber privilegiado, subjulgando outras manifestações humanas. Desde os gregos, instaurou-se uma tensão entre o sensível e o inteligível, estabelecendo-se, desde então, uma cisão entre o conhecimento da razão (que inclui a filosofia e a ciência) e o conhecimento da sensibilidade, que abarca, de modo geral, todas as expressões artísticas.
Mas a racionalidade lógica e conceitual, que possibilitou o desenvolvimento da ciência e da técnica, não deu conta de responder às indagações e contradições do universo humano, pois como nos diz Manoel de Barros, no Livro sobre o Nada:
A ciência pode classificar e nomear os órgãos de um sabiá
Mas não pode medir seus encantos
A ciência não pode calcular quantos cavalos de força existem nos encantos de um sabiá (Barros, 1996, p. 53)
Diante da incapacidade da técnica e da ciência de preencher os nossos “vazios” e “dobras”, aprofundados pelo mundo do trabalho e pela lógica do mercado, presenciamos na contemporaneidade o alargamento do conceito de razão. Diante disso, para compreendermos a poesia que é produzida nesse cenário de crise e contradições, é indispensável entendermos, a relação entre poesia e pensamento, visto que nos é solicitado, a todo instante, capacidade de análise, de reflexão e criatividade.
A oposição que se construiu historicamente entre poesia e pensamento é o centro das considerações de