Poesias Cecília Meireles
Súbito pássaro dentro dos muros caído, pálido barco na onda serena chegado. Noite sem braços!
Cálido sangue corrido. E imensamente o navegante mudado. Seus olhos densos apenas sabem ter sido.
Seu lábio leva um outro nome mandado. Súbito pássaro por altas nuvens bebido. Pálido barco nas flores quietas quebrado. Nunca, jamais e para sempre perdido o eco do corpo no próprio vento pregado. Cecília Meireles
Personagem
Cecília Meireles
Teu nome é quase indiferente e nem teu rosto mais me inquieta.
A arte de amar é exactamente a de se ser poeta.
Para pensar em ti, me basta o próprio amor que por ti sinto: és a ideia, serena e casta, nutrida do enigma do instinto.
O lugar da tua presença é um deserto, entre variedades: mas nesse deserto é que pensa o olhar de todas as saudades.
Meus sonhos viajam rumos tristes e, no seu profundo universo, tu, sem forma e sem nome, existes, silêncio, obscuro, disperso.
Teu corpo, e teu rosto, e teu nome, teu coração, tua existência, tudo - o espaço evita e consome: e eu só conheço a tua ausência.
Eu só conheço o que não vejo.
E, nesse abismo do meu sonho, alheia a todo outro desejo, me decomponho e recomponho.
Ou isto ou aquilo
Ou se tem chuva ou não se tem sol, ou se tem sol ou não se tem chuva!
Ou se calça a luva e não se põe o anel, ou se põe o anel e não se calça a luva!
Quem sobe nos ares não fica no chão,
Quem fica no chão não sobe nos ares.
É uma grande pena que não se possa estar ao mesmo tempo em dois lugares!
Ou guardo dinheiro e não compro doce, ou compro doce e não guardo dinheiro.
Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo... e vivo escolhendo o dia inteiro!
Não sei se brinco, não sei se estudo, se saio correndo ou fico tranqüilo.
Mas não consegui entender ainda qual é melhor: se é isto ou aquilo.
Tentativa
Andei pelo mundo no meio dos homens! uns compravam jóias, uns compravam pão.
Não houve mercado nem