Poema porque
Porque os outros se mascaram mas tu não.
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são túmulos caiados
Onde germina a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.
Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.
Análise
Este poema é constituído por 13 versos agrupados por uma quadra e três tercetos.
O esquema rimático é abaa/caa/dea/ffa, sendo a rima cruzada, emparelhada e um verso branco na quadra; um verso solto e rima emparelhada no primeiro terceto, três versos brancos na estrofe a seguir e rima interpolada e um verso branco na última estrofe.
De salientar, a repetição anafórica da conjunção subordinada causal «porque»que, ao longo de todo o poema, serve para comparar o «tu» com os “outros”, sendo que o “eu” poético vê este “tu” como alguém que faz o que é certo, mas não tem medo de arriscar. Por isso,considero que o poema se desenvolve todo à volta da distinção que o sujeito poético faz entre o “tu” e “os outros”.
Poema sobre os problemas da sociedade uma vez que “os outros” se mascaram para se esconder, se vendem e se compram porque só assim podem conseguir alguma coisa na vida, e, vão à sombra dos abrigos porque têm medo que lhes aconteça alguma coisa.
E é assim que o “tu” se destaca.
Esse “tu” faz o contrário dos outros porque quer alterar a sociedade, ou então apenas serdiferente e não cometer os mesmos erros que “os outros” comete(ra)m.
O sujeito poético admira este “tu” porque ele se destaca, preza este “tu” pela maneira dele ser, pelas decisões que toma e pelas suas acções , porque é diferente de todos os outros.