poema gaúcho
Alcy Cheuiche gentileza de Daniel Cassol
Entendo. Envelheci entendendo. Bicho não tem alma, eu sei bem, mas será que vivente tem?
Que diacho! Eu gostava do meu cusco. Era uma guaipeca amarelo, baixinho, de perna torta, que me seguiu num domingo, de volta de umas carreira.
Eu andava meio abichornado, bebendo mais que o costume, essas coisa de rabicho, de ciúme, vocês me entendem, ele entendeu.
Passei o dia bebendo e ele ali no costado me olhando de atravessado, esperando por comida.
Nesse tempo era magrinho que aparecia as costela. Depois pegou mais estado mas nunca foi de engordá.
Quando veio meu guisado, dei quase tudo prá ele. Um pouco, por pena dele, e outro, que nesse dia, só bebida eu engolia por causa dos pensamento.
Já pela entrada do sol, ainda pensando na moça e nas miséria da vida, toquei de volta prás casa e vi que o cusco magrinho vinha troteando pertinho, com um jeito encabulado.
Volta prá casa, guaipeca! Ralhei e ralhei com ele. Parava um puco, fugia, farejava qualquer coisa, depois voltava prá mim. O capataz não gostou, na estância só tinha galgo, mas o guaipeca ficou.
Botei o nome de sorro, as crianças, de brinquinho, mas o nome que pegou foi de guaipeca amarelo.
Mas nome não é o que importa. Bicho não tem alma, eu sei bem. Mas será que vivente tem?
Ficou seis anos na estância. Lidava com gado e ovelha sempre atento e voluntário. Se um boi ganhava no mato, o guaipeca só voltava depois de tirá prá fora.
E nunca mordeu ninguém! Nem as índia da cozinha que inticava com ele. Nem ovelha, nem galinha, nem quero-quero, avestruz. Com lagarto, era o primeiro e mesmo piquininho corria mais do que um pardo.
E tudo ia tão bem... Até que um dia azarado o patrãozinho noivou e trouxe a noiva prá estância.
Era no mês de janeiro, os patrão tava na praia, e