Poder
Bismarckiano. Era mister, para a França, combatê-la. O pensamento geográfico francês nasceu com esta tarefa. Por isso, foi, antes de tudo, um diálogo com Ratzel. O principal artífice desta empresa foi Vidal de La Blache. Este autor, que publicou suas obras nas últimas décadas do século passado e nas primeiras do atual, fundou a escola francesa de Geografia e, mais, deslocou para este país o eixo da discussão geográfica, até então sediado na Alemanha. Do mesmo modo que as colocações de
Ratzel embasavam-se na situação concreta de sua época e de sua sociedade, a Geografia de Vidal de
La Blache só será compreensível em relação à conjuntura da Terceira República, ao antagonismo com a Alemanha, e à particularidade do desenvolvimento histórico da França. Ambos veicularam, através do discurso científico, o interesse das classes dominantes de seus respectivos países. Por terem sido diferenciadas as vias de desenvolvimento capitalista, na Alemanha e na França (logo, as próprias classes dominantes), foram diferentes as formas e os conteúdos desses discursos. A proposta de Ratzel exprimia o autoritarismo, que permeava a sociedade alemã; o agente social privilegiado, em sua análise, era o Estado, tal como na realidade que este autor vivenciava. A proposta de Vidal manifestava um tom mais liberal, consoante com a evolução francesa, e sua análise partiu do homem abstrato do liberalismo. Esta diferença de tonalidade das propostas foi o patamar , a partir do qual foram tecidas as críticas de Vidal à Antropogeografia de Ratzel. E que lhe permitiu cumprir a função ideológica, que estava destinada a esta disciplina pelas classes dominantes francesas.
Uma primeira crítica de princípio, efetuada por Vidal às formulações de Ratzel, dizia respeito à politização explícita do discurso deste. Isto é, incidia no fato de as teses ratzelianas tratarem abertamente de questões políticas. Vidal,