Pobreza gera violencia
Michel Foucault tinha um interesse especial pelos temas da violência e da disciplina. Ele queria entender de que maneira e por que razões as diferentes sociedades estabelecem aquilo que as pessoas devem fazer e aquilo que é visto como inapropriado. O caso da abolição da pena de morte no Brasil é um bom exemplo dessa mudança de atitude em relação ás concepções de justiça. Durante muito tempo, nos lembra Foucault, a lei da violência, mais do que a violência da lei, foi vista como a única forma legitima de fazer justiça. Mas, a partir do século XVIII, as torturas corporais e humilhações morais foram pouco a pouco substituídas pela ideia da “punição humanizada”. As penas corporais passaram a ser consideradas inaceitáveis, e em seu lugar foram propostas outras maneiras de “resgatar o homem por detrás do criminoso”. A justiça deixou de ser executada em praça publica para se realizar nos tribunais, em vez de corpos esquartejados, os condenados deveriam ser levados para as prisões. O sistema judiciário como um todo tornou-se mais racional.
No inicio dos anos 1980, o conjunto habitacional Cidade de Deus, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, tinha se tornado conhecido como uma das localidades mais violentas do país. Nessa mesma época, e nessa mesma localidade, a antropóloga Alba Zaluar deu inicio a uma pesquisa que iria resultar em um dos livros mais influentes no campo dos estudos sobre violência urbana A máquina e a revolta. Segundo Alba Zaluar é preciso interromper esse encadeamento lógico se nos interessa entender o problema da violência urbana, não apenas na “Cidade de Deu”, mas em qualquer outra cidade brasileira. A pobreza, insiste a antropóloga, não é um ingrediente óbvio da criminalidade. Se assim o fosse, todos os pobres cotraficantes como um seriam pobres, o que está longe de ser verdade, como metidos por cidadãos procedentes das classes médias e altas da sociedade.
Essa correlação causal pobreza-crime já havia sido contestada em 1978 por