Planeta Favela
PLANETA DE FAVELAS
A involução urbana e o proletariado informal
Em algum momento do ano que vem, uma mulher vai dar à luz na favela de
Ajegunle, em Lagos; um rapaz fugirá de sua aldeia, no oeste de Java, para as luzes brilhantes de Jacarta; e um fazendeiro partirá com a família empobrecida para um dos inumeráveis pueblos jovenes de Lima. O evento exato não importa e passará sem sequer ser notado. Ainda assim, representará um divisor de águas na história humana. Pela primeira vez, a população urbana da Terra será mais numerosa que a rural. Na verdade, dada a imprecisão dos recenseamentos no Terceiro Mundo, essa transição sem paralelo pode já ter ocorrido.
A Terra urbanizou-se ainda mais depressa do que previra de início o Clube de Roma em seu relatório sabidamente malthusiano de 1972, Limits of growth
[Limites do crescimento]. Em 1950, havia 86 cidades no mundo com mais de um milhão de habitantes; hoje, são 400 e, em 2015, serão pelo menos 550. Na verdade, as cidades absorveram quase dois terços da explosão populacional global desde
1950 e crescem hoje no ritmo de um milhão de bebês e migrantes por semana.
A população urbana atual (3,2 bilhões de pessoas) é maior que a população total do planeta em 1960. Enquanto isso, no mundo todo o campo chegou a sua população máxima (3,2 bilhões de pessoas) e começará a encolher a partir de 2020.
Como resultado, as cidades serão responsáveis por todo o crescimento populacional futuro da Terra – espera-se que seu ponto máximo, cerca de 10 bilhões de habitantes, seja atingido em 2050.
UN
Population Division, World urbanization prospects, the 2001 revision (Nova York, 2002).
Population
Information Program, Population reports: meeting the urban challenge, v. XXX, n. 4, outono [quarto trimestre] de 2002, p. 1.
Wolfgang Lutz, Warren Sandeson e Sergei Scherbov, “Doubling of world population unlikely”,
192 Mike Davis
O CLIMATÉRIO URBANO
Onde estão os heróis, os