. De forma particular e decisiva, a Igreja teve como grande aliada a medicina. Médico e padre tinham acesso à intimidade das mulheres, mesmo com objetivos aparentemente distintos: um, voltado ao cuidado com a alma; o outro, com o corpo. Mas em ambas as práticas ressalta-se uma violenta intervenção nas vidas privadas e, no caso da medicina, esta é reforçada através da normatização prescritiva sobre o corpo feminino. Foi resultado desta época a elaboração de uma imagem regular da feminilidade, o que estava adequado aos interesses da Igreja. Para esta, a sexualidade somente deveria servir à procriação. Todas as marcas do desejo carnal e de animalidade do ato sexual deveriam ser "apagadas" pela concepção. As penas da vida conjugal, assim como os sofrimentos decorrentes do parto, eram vistos como oportunidades "purificadoras", redentoras do pecado para a ressurreição. Deste modo era lançada a maldição para as mulheres infecundas, incapazes de reverter com a pureza da gravidez a dimensão pecaminosa do coito. No que diz respeito à concepção, o conhecimento científico é atribuído à Regnier de Graaf (1641-73), lembrado nos folículos ovarianos de Graaf. Até então acreditava-se na teoria desenvolvida ainda por Aristóteles, que atribuía exclusivamente ao espermatozóide a função reprodutiva, onde a função da mulher seria apenas a de um receptáculo. De forma sutil foi se conduzindo uma ideologia natalista implícita na cultura ocidental, influenciada pelas idéias positivistas e fundamentada nas descobertas da biologia. Esta situação arrastou-se do Brasil Colônia ao início da República. Na década de trinta, com a criação do saláriofamília, do auxílio-natalidade e o desenvolvimentismo pós-guerra, explicita-se por parte do Estado de Getúlio uma tendência pró-natalista. Enquanto isso, no cenário internacional são retomadas as teses do Reverendo Thomas Robert Malthus (1766 _ 1834), que alertava sobre os perigos da superpopulação em decorrência do não correspondente crescimento da