Peter brook
Certo dia, numa universidade inglesa, quando dava as conferências que serviram de base para meu livro O teatro e seu espaço, eu me vi sobre o palco de um auditório, de frente para um enorme buraco negro, distinguindo vagamente lá no fundo do buraco umas pessoas sentadas na escuridão. Quando comecei a falar, senti que tudo o que dizia não tinha o menor sentido. Fui ficando cada vez mais deprimido, pois não conseguia achar um jeito natural de chegar até elas. Vi que elas estavam sentadas como alunos atentos, à espera de sábios conselhos para escreverem em seus cadernos; quanto a mim, havia sido escalado para o papel de mestre, investido da autoridade que cabe a quem fica quase dois metros acima do nível dos ouvintes. Felizmente, tive a coragem de parar e sugerir que fôssemos para outro lugar. Os organizadores saíram, procuraram por toda a universidade e finalmente acharam uma salinha que era estreita demais e muito desconfortável, mas onde foi possível estabelecermos uma relação natural e mais intensa. Falando nestas novas condições, percebi imediatamente que havia uma nova relação entre mim e os estudantes. Daí por diante, consegui falar livremente e a platéia ficou igualmente livre. As perguntas, assim como as respostas, fluíram de modo muito mais fácil. A grande lição que recebi nesse dia, no tocante ao espaço, tornou-se a base das experiências que desenvolvemos muitos anos depois em Paris, em nosso Centro Internacional de Pesquisa Teatral. Para que alguma coisa relevante ocorra, é preciso criar um espaço vazio. O espaço vazio permite que surja um fenômeno novo, porque tudo que diz respeito ao conteúdo, significado, expressão, linguagem e música só pode existir se a experiência for nova e original. Mas nenhuma experiência nova e original é possível se não houver um espaço puro, virgem, pronto para recebê-la. Um diretor sul-africano extremamente dinâmico, que criou um movimento de Teatro Negro nos distritos