Pesquisa: A ética nas religiões
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Martinho Lutero negava qualquer importância à moral no que tange ao destino eterno do ser humano. É a conseqüência lógica da sua tese de que sola fide [“apenas pela fé”] o homem chega à salvação: “Assim, a alma é justificada somente pela fé e não por obra alguma...” O ensinamento de que as ações morais têm conseqüências na vida terrena do homem, mas não na sua salvação, tende a produzir graves efeitos na sua religiosidade. Lutero escreve o seguinte: “Portanto, é cega e perigosa a doutrina que ensina que os mandamentos devem ser cumpridos por meio de obras”. É uma tese tão crucial aos olhos do Reformador que ele se vê forçado a rejeitar a afirmação de São Tiago de que a fé sem obras é morta (Tg 2, 26). Rejeitar a Epístola de um dos Apóstolos (ele a considerava uma Epístola de pouco valor) é uma atitude bastante ousada por parte de Lutero, mas coerente com a convicção de que a sua doutrina não poderia ser julgada por ninguém, nem mesmo pelos anjos. Tal declaração é praticamente uma autocondenação. Porque é uma glória para o homem submeter os seus juízos pessoais a Deus e àquelas pessoas a quem Deus concedeu autoridade nesta terra. Pobre do homem que se autoproclama a autoridade suprema.
Esse divórcio entre a ética e a religião ganhou mais e mais atualidade com o passar do tempo. Há sociedades contemporâneas que afirmam possuir uma ética sem religião. Há “sociedades ético-culturais” que se orgulham de ensinar uma bondade moral sem qualquer referência a Deus. O discurso da moda é de que religião e moral são duas esferas totalmente independentes que devem ser escrupulosamente mantidas separadas. Um argumento popular a favor disso é o fato de muitos ateus se destacarem pela sua moralidade, ao passo que muitas pessoas religiosas freqüentemente quebram as leis morais. Esse raciocínio pede uma explicação: é verdade (como Santo Agostinho menciona na sua Cidade de Deus) que algumas virtudes naturais podem ser encontradas entre os pagãos e os descrentes. Um pagão pode