percepção do movimento
Letícia Wons
Resenha de “As Palavras e as Coisas”, de Michel Foucault
As obras de Michel Foucault mais discutidas e problematizadas no meio acadêmico são posteriores a As Palavras e as Coisas (1966); um exemplo disso é a grande popularidade de Vigiar e Punir (1975). Porém, ao voltarmos nosso olhar a sua produção num sentido mais amplo, podemos destacar As Palavras e as Coisas como peça-chave de um argumento que se estende por toda sua trajetória e marco de uma preocupação que está implícita em seus trabalhos anteriores e que consegue se desenvolver nos seus trabalhos posteriores.A Arqueologia do Saber, de 1969, só pôde surgir em decorrência da receptividade crítica de As Palavras e as Coisas.
Quando Foucault escreve A História da Loucura na Idade Clássica (1961), sua preocupação está em compreender como uma cultura pode generalizar uma diferença que a limite; já em As
Palavras e as Coisas, seu grande questionamento é entender como se experimenta a proximidade entre diferentes saberes numa mesma esfera e como se dá sentido às ordens de pensamento. No início, ele se voltava para a compreensão do Outro, buscando, a partir daí, definir o Mesmo. Ele passa então a olhar para o Mesmo e procurar as marcas que definem as identidades e as relações entre as coisas.
Essa abordagem é marcadamente epistêmica e a grande contribuição que podemos retirar de
Foucault é seu olhar arqueológico e as implicações de método decorrentes a partir daí. Fazendo uma crítica à historia das ciências e à história das ideias, Foucault pretende desenvolver uma análise que não se paute na continuidade do saber e na causalidade entre diferentes tipos de pensar. Ele nega a suposição de que condições materiais permitem determinados tipos de pensamento, ou que entre pensamentos distintos em épocas diferentes, um seja tributário daquele que lhe é anterior. Foucault, ao longo de uma extensa argumentação em As Palavras e as Coisas, demonstra que há autonomia