pedagogia terapeutica
PEDAGOGIA TERAPÊUTICA*
JOÃO DOS SANTOS
Nesta comunicação ao “Encontros dos Psicólogos” pretendo colocar-me na posição de psicólogo. Na sua elaboração inspirei-me numa prática de dezenas de anos de actividade terapêutica e teoricamente em dois princípios da pedagogia experimental da médica, psicóloga e antropologista Maria Montessori, que passo a enunciar:
1º. A psicologia deve enriquecer-se com a experiência pedagógica como a pedagogia com a psicologia. O psicólogo deve estudar a criança no seu meio natural e não na situação artificial do laboratório.
2º. O trabalho que se propõe à criança não é fecundo se não corresponder a uma necessidade do seu desenvolvimento.
Começarei com a exposição de alguns casos exemplares que vos podem desde já ajudar a compreender a posição em que me coloco:
I – Maria, 14 anos, actualmente licenciada. Frequentava o 4º. ano do liceu com classificações insuficientes em dois períodos escolares quando me consultou. Estava em risco de não passar o ano sobretudo pela dificuldade para as línguas e para as redacções. Ocupei-me dela a partir das férias da Páscoa e o seu estado era de intensa depressão e inibição não só no plano da relação com as pessoas como no plano da actividade escolar. O escrever era para ela um acto mecânico, que se desenvolvia apenas no plano da reprodução oculo-manual de engramas previamente cristalizadas sob a forma de clichés. Procurei através da comunicação aumentar o seu insight e sempre que algo de emocional aparecia na conversa, mesmo que muito discretamente, fazia-a desenvolver por escrito esse aspecto afectivo das suas vivências.
Assim venceu a inibição e ultrapassou a depressão. Passou de ano, aprovada a todas as disciplinas. II – Virgínia, 7 anos, 1ª. classe da i.p. Mutismo selectivo fora de casa e naturalmente dificuldades de aprendizagem da leitura. Comigo o mutismo era total, a sua expressão impenetrável, a sua atitude de extrema tensão tornando mais aparente a sialorreia,