Paul Ricoeur
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Introdução
Este capítulo tem como objetivo apresentar os principais elementos da contribuição que Ricoeur oferece para a teoria da interpretação e, também, a trajetória de sua formulação, criando-se, assim, a oportunidade para esclarecer as principais idéias, conceitos e posições que constituem sua filosofia hermenêutica e orientam sua obra. Por exemplo, ao se apresentar o trabalho exegético da Poética, o que ocorrerá no próximo capítulo, o que se traz à luz é sua concepção sobre interpretação. O mesmo acontece com a hermenêutica do si que será apresentada no último capítulo: trata-se da condensação dos temas com os quais se preocupou e para os quais se voltou, como hermenêutica do sujeito, temporalidade, narratividade e a dimensão ética da ação.Com estes objetivos, serão apresentadas, inicialmente e de forma sucinta, uma após outra, as tendências filosóficas e concepções nas quais a hermenêutica ricoeuriana deita suas raízes. O caminho que se passará a percorrer tem como fio condutor inicial a declaração de Ricoeur no primeiro capítulo de Do Texto à Ação, na qual reconhece sua vinculação com a tradição hermenêutica constituída por Schleiermacher, Dilthey, Heidegger e Gadamer e à filosofia reflexiva de Nabert, Fichte, Kant e Descartes. Eis um trecho dessa declaração:
“Gostaria de caracterizar a tradição filosófica de que me reclamo com três traços: vem na linha de uma teoria reflexiva; habita o movimento da fenomenologia husserliana; e pretende ser uma variante hermenêutica desta fenomenologia”.
(RICOEUR, 2000, p.59 ).
Esta declaração contém a informação de que a tradição filosófica à qual Ricoeur se filia em sua origem mais remota é aquela que pratica a compreensão que se efetiva numa abertura da consciência em relação ao outro, ao interpelá-lo sobre seu sentido: portanto, a origem mais remota da hermenêutica ricoeuriana é a fenomenologia husserliana. Como se vê na declaração