PAUL RICOEUR
O pensamento de Paul Ricoeur constitui a ontologia de um ser humano interpelado pela finitude existencial. Isto posto, este indivíduo deve propor a si um modo próprio de viver, tendo em vista uma existência realizada, plenificada, na finalidade de constituir-se como um ser humano capaz. Tal propósito acontece mediante um processo, que em Ricoeur abrange o autoconhecimento do sujeito, de quem ele próprio é, de ‘si mesmo’, que também envolve o si que é o outro, tudo isso inserido em certa apropriação do desejo de ser e existir, a luta pelo reconhecimento.
A proposta de conhecer o si mesmo apresenta-se não como um fato dado, mas constitui para o filósofo uma tarefa a ser realizada durante toda a existência.
Propõe-se, deste modo, um longo caminho a ser percorrido, onde o exame de si assume uma postura epistêmica, hermenêutica, desenvolvendo no sujeito uma identidade caracterizada como identidade narrativa. O sujeito que lê, interpreta e narra a si próprio, a sua existência, realiza uma dialética imersa também na alteridade. A tensão existencial gerada pela dúvida sobre si, por meio do encontro do si consigo mesmo revela a existência de um cogito ferido; a consciência que duvida passa a questionar também a si mesma. A postura dialética, que é hermenêutica, traz em si a mediação da linguagem, da psicanálise, e também das narrativas históricas e de ficção, lembrando que a filosofia de Ricoeur constantemente faz apelo à tragédia grega; por fim, configura-se um sujeito que lê sua vida e a narra, consequentemente avaliando sua ação, o que fundamenta uma atitude ética diante da problemática exposta. Experiência linguística e comportamento humano complementam-se para Paul Ricoeur; é o equilíbrio dinâmico entre o dizer e o fazer. Ainda mais, segundo os apontamentos do nosso filósofo, a vida humana está sob a permanente ameaça do desconhecimento, a identificação de si e do real oscilando entre o reconhecimento e o desconhecimento.
Configura-se assim