Parte II
Nem só de privação e misérias vivem os bairros periféricos da cidade de São Paulo. Nestes locais, geralmente esquecidos pelo poder público, há uma rica vida cultural que, agora, vem ganhando destaque e reconhecimento da mídia. É exatamente neste cenário que se encaixa a literatura marginal.
Para retratar o tema, buscamos o formato de documentário por diversos motivos:
Retratar o local onde a literatura se desenvolve e mostrar o contraste da pobreza da periferia com a riqueza cultural que ela produz.
Explorar os sons e imagens dos saraus e dos bairros como um todo.
Mostrar a riqueza da oralidade no desenvolvimento de obras literárias nos saraus.
O “Linhas Periféricas” foi dividido em três blocos e com o tempo total de 27 minutos. A hipótese que levantamos é como a literatura muda a vida das pessoas em três dos bairros mais desfavorecidos de São Paulo: Capão Redondo, Jardim Guarujá e Campo Limpo. Mais do que simplesmente mostrar as mudanças, o documentário quer ir além: conhecer a fundo a vida dos personagens, que apresentam motivos tão diversos para começarem a se envolver com poesia, textos e diversas outras formas de literatura.
Através do presente trabalho, é possível perceber que estas regiões, tão subvalorizadas e esquecidas pelos poderes públicos, são, sim, capazes de produzir obras aclamadas como “Capão Pecado” de Ferréz, obra exposta inclusive no exterior. Que, apesar de tudo, a procura pelos saraus e a frequência nas reuniões só aumenta. E, principalmente, que independente de se tornarem escritores de sucesso ou não, os protagonistas do documentário sabem da importância dos saraus em suas vidas e, sobretudo, dos frutos que eles podem render.
O primeiro sarau a ser inaugurado e, consequentemente, grande impulsor do movimento, foi o da Cooperifa, em 2001, no Jardim Guarujá. Sérgio Vaz, o fundador, presidiu a primeira reunião para três pessoas. Um começo bem modesto, principalmente levando-se em consideração que no aniversário de 10 anos