Para Gostar de Ler
As inquietações de Ana são de clara natureza existencial: bom mesmo era fazer nada, nem pensar, mas isso só às vezes conseguia, e era impossível gozar o momento, sempre passado. Para essa reflexão, o ponto de partida da menina foi a escola, universo transgressor da liberdade do pensar:Achava péssimo ir à escola, a professora era horrível. É como se o universo adulto, cheio de regras, podasse o que ela mais gostava; pensar sem ninguém perto porque aí podia ir avançando até se perder, brincar de santa, dormir, comer doce. Assim, Ana ia cada vez sabendo mais.
A lacuna decorrente da ausência paterna revela a crise de Ana que afinava-se embaraçada de não conseguir dizer papai do modo de Tita ou Nina. Omitir a verdade é uma prática do universo adulto, e a mãe de Ana não revela que é separada, desquitada. A descoberta desta palavra (desquitada) soa para Ana como agressão e se dá numa aprendizagem dolorosa. Para Ana, o pai está viajando, mas não é a verdade, e os outros sabem disso: - Mentirosa! Sua mãe é desquitada. Assim de supetão, deixou Ana impotente diante da palavra desconhecida. E num lance de sadismo diante do sofrimento da outra, para invocar a causa secreta machadiana, Tita corada e brilhante de prazer na sua frente.
O prazer de ter trazido a tona uma verdade que Ana desconhecia o prazer no desconforto de Ana. Agora a necessidade da dimensão semântica de desquitada. Em princípio, tenta solucionar sozinha, mas isso extrapola sua capacidade. Sofre com as hipóteses levantadas: Seria uma coisa como burra, feia? Flor? Flor parecia, mas não explicava nada [...] Tita dissera como quem diz [ ...] sem-vergonha. Sim! Ana tenta defender a mãe amando-a, amou-a até sentir lágrimas, defendendo-a contra a palavra que poderia feri-la. O aprendizado precisa ir em frente: A professora feia! Quando ela perguntar se alguém tem dúvida. Por que não a professora? Talvez ela fosse boa, mas veio a frustração. A timidez produziu insegurança, e