Para Gostar de Ler Cronicas 3
ASSALTO, Carlos Drummond de Andrade
Na feira, a gorda senhora protestou a altos brados contra o preço do chuchu:
-Isto é um assalto!
Houve um rebuliço. Os que estabam perto fugiram. Alguém, correndo, foi chamar a guarda. Um minuto depois, a rua inteira, atravancada, mas provida de admirável serviço de comunicaçäo espontânea, sabia que se estava perpetando um assalto ao banco. Mas que banco? Havia banco naquela rua?Evidente que sim, pois do contrário como poderia ser assaltado?
-Um assalto! Um assalto!- a senhora continuava a exclamar, e quem näo tinha escutado, escutou, multiplicando a notícia. Aquela voz surgindo do mar de barracas e legumes era como apropria sirena policial, documentando, por seu uivo, a ocorrência grave, que fatalmente se estaria consumando ali, na claridade do dia, sem que ninguém pudesse evitá-la.
Moleques de carrinho corrian em todas direçoës, atropelando-se uns aos outros. Queriam salvar as mercadorias que transportavam. Näo era o instinto de propriedade que os impelia. Sentiam-se responsáveis pelo transporte. E no atropelo da fuga, pacotes rasgavam-se, melancias rolavam, tomates esborachavam-se no asfalto. Se a fruta cai no chäo, já näo é de ninguém; é de qualquer um, inclusive do transportador. Em ocasiöes de assalto, quem é vai reclamar uma penca de bananas meio amassadas?
-Olha o assalto! Tem um assalto ali adiante!
O ônibus na rua transversal parou para assuntar. Passageiros ergueram-se, puseram o nariz para fora. Näo se via nada. O motorista desceu, desceu o cobrador, um passageiro advertiu:
-No que você vai a fim de ver assalto, eles assaltam sua caixa.
Ele nem escutou. Entäo os passageiros também acharam de bom alvitre abandonar o veículo, na ânsia de saber, que vem movendo o homen, desde a idade da pedra até a idade do módulo lunar.
Outros ônibus pararam, a rua entupiu.
- Melhor. Todas as ruas estavam bloqueadas. Assim eles náo podem dar no pé.
- É uma mulher que chefia o bando!
- Já