PARA ALÉM DO “TRABALHO DE CAMPO"
DE CAMPO”: reflexões supostamente malinowskianas* Emerson Giumbelli
Este texto procura refletir sobre as relações entre antropologia e trabalho de campo ao propor uma releitura dos célebres esclarecimentos prestados por Bronislaw Malinowski no capítulo de abertura dos Argonautas do pacífico ocidental, livro originalmente publicado em 1922. Considerando tanto a amplitude da questão quanto a importância do escrito a ser comentado, tentarei, antes de mais nada, deixar claro o que este texto não pretende ser. Como se sabe, naquele capítulo, Malinowski apresenta “uma descrição dos métodos utilizados na coleta do material etnográfico”
(1978, p. 18) referente ao “trabalho de campo”
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Trabalho apresentado no XXV Encontro Anual da Anpocs (Caxumbu, 2001), na programação do Seminário Temático “A Antropologia e seus métodos: o arquivo, o campo, os problemas”. Após a apresentação, introduzi algumas modificações na versão original, derivadas das discussões que mantivemos durante o evento – daí meus créditos aos colegas de seminário.
que realizou entre os nativos das Ilhas Trobriand, uma população de 1200 melanésios da costa nordeste da Nova Guiné, durante a década de 1910.
Pouco tempo depois, essa apresentação passou a ter lugar paradigmático na antropologia, alçada ora a marco de uma verdadeira revolução nos referenciais teóricos e nos objetivos gerais da disciplina, ora a padrão original e exemplar em termos metodológicos. Pois bem, meu propósito não é discutir o lugar ou as contribuições de Malinowski para a antropologia, nem analisar a produção de sua pesquisa tendo como parâmetro o contexto específico ou geral em que se insere, nem me posicionar sobre a questão de se ele efetivamente criou o “trabalho de campo”, nem, enfim, incursionar pelos modos pelos quais Malinowski construiu a “autoridade etnográfica de suas ficções” ou como “convenceu” seus leitores do que disse.
O propósito deste texto é realizar uma leitura de