Reflexões para além do trabalho de campo
“Para além do ‘trabalho de campo’: reflexões supostamente malinowskianas
RBCS Vol. 17 n° 48 fevereiro/2002.
O propósito deste texto é realizar uma leitura de Malinowski, reconhecendo assim sua centralidade na disciplina, que consiga problematizar a associação privilegiada que costumamos fazer entre trabalho de campo e antropologia.
E, embora seja geralmente admitido que desde os tempos de Malinowski até agora muita coisa mudou na antropologia, a opinião de que o trabalho de campo seja o método privilegiado da antropologia e a sobreposição entre etnografia e trabalho de campo parecem hegemônicas.
Fica então a pergunta: existe antropologia sem trabalho de campo?
Recorte de análise: Consultei alguns estudos sobre “metodologia”, “trabalho de campo”, “etnografia”, além de textos sobre e do próprio Malinowski. As inúmeras lacunas derivadas do modo como realizei minhas buscas bibliográficas foram, em parte, sanadas pelo recurso a um material “de referência”: verbetes de enciclopédias de ciências sociais ou de antropologia. P. 92
I
O fato de que o trabalho de campo apareça freqüentemente como essencial à antropologia não significa que haja muita clareza a seu respeito. As definições do trabalho de campo antropológico frustram ora pela carência, ora pelo excesso. De um lado, encontram-se definições que perpetuam o modo pelo qual o trabalho de campo originalmente se constitui, ou seja, por oposição à pesquisa conduzida em laboratório ou no gabinete, ou que investem na clivagem entre as ciências humanas e as ciências naturais, ou seja, enfatizando a relação de “intimidade”, a “convivência” com as pessoas, a “imersão” em outra cultura. De outro lado, há descrições que parecem utópicas ou ao menos idealizadas quando aproximadas das condições que presidem a maior parte das experiências de trabalho de campo. Resta, no entanto, a constatação de que o que fazemos como pesquisadores e cientistas assenta-se em algo (a “magia do etnógrafo”?) que não se