Ousadia de pensar
Se por um lado a Filosofia necessita da norma e de padrões, grandes filósofos que marcaram a história romperam com a tradição para criar grandes ideias. Seria a ousadia o imperativo que falta a pensadores brasileiros para se fugir apenas da exegese e criar uma Filosofia genuína? | | |
Inicio este texto com uma pergunta essencial: além de estudar os filósofos, invariavelmente europeus ou norte-americanos, há algum espaço aberto na sociedade para fazermos as nossas próprias filosofias? Ou é isto hoje uma pergunta ingênua? Existe esse espaço nas universidades, nos colégios ou nas instituições em que se ensina Filosofia? A sociedade brasileira espera por um filósofo, ou este, se aparecer, provocaria uma grande surpresa nas pessoas, por ser algo totalmente inesperado?
Podemos iniciar a nossa reflexão por meio dos textos de Immanuel Kant (1724-1804). O grande filósofo alemão salienta, em suas ideias, que o maior problema para o professor de Filosofia é a juventude de seus alunos, a quem ele terá de ensinar muitas coisas que “... segundo a ordem natural, só poderiam ser alcançadas por uma razão mais exercitada e mais experimentada”. (Kant, Notícia sobre a organização de suas preleções no semestre de inverno de 1765-1766, incluído no livro Lógica). Este inconveniente inevitável deve ser sanado, segundo Kant, tentando formar o aluno, em primeiro lugar, na sensatez, no espírito racional e só depois na erudição.
Se invertermos essa sequência natural, o jovem apenas poderá tagarelar sobre o que não está em condições de entender. Ele “... vai abocanhar uma espécie de razão antes mesmo que o entendimento tenha sido formado nele, tornando-se portador de uma ciência de empréstimo, que nele estará, por assim dizer, apenas grudada e não desenvolvida, ao passo que suas aptidões mentais permanecerão tão estéreis como antes, tendo se tornado, porém, com o delírio da sabedoria, muito mais corrompidas”. O primeiro que deve ser ensinado ao jovem aprendiz