Os Palcos do Povo
Pedro de Mariz Saucedo1
TINHORÃO, José Ramos. Os sons que vem da rua. São Paulo: Editora 34.
Identidade nacional. Talvez seja este o mote principal que motivaria um jovem, formado na primeira turma de jornalismo do Brasil na década de 1950, a tomar uma postura menos neutra com relação às suas criticas a respeito da música popular brasileira2. Os três subcapítulos que compõem o texto referente a esta resenha fazem parte de uma das tantas e corajosas empreitadas oferecidas por Tinhorão àqueles que buscam um olhar menos famoso3 aos cernes do que à construção de identidade musical nacional se refira.
Ainda que os três fragmentos do texto, de que trata esta resenha, não exibam uma postura explicitamente política, marxista, esquerdista ou demais rótulos carregados pelo autor, contam aspectos e detalhes sobre o que ocorria no circuito não oficial – fora das salas de concerto e locais frequentados pelo público abastado – do começo do século XX no Brasil. Numa tentativa – a meu ver – de dar valor aos produtos das ruas e manifestações do povo, traz a tona fatos históricos que remetem diretamente ao que hoje faz parte do que chamamos de música popular brasileira.
Enquanto na Europa, desse tempo, o entretenimento da vez eram os cafés-cantantes, cuja programação estava baseada em espécie de show de variedades de artistas populares e que mais tarde, tais estabelecimentos, evoluiriam para os cafés-concerto dando mais prestigio a quem se apresentasse por lá, pelo texto de Tinhorão, aqui no Brasil a coisa se desenvolveu de maneira um pouco diferente – a final, desde aquele tempo, toda exceção é permitida e bem-vinda. O molde café-cantante à francesa existiu, mas como todo produto importado – ainda que originalmente de cunho popular – não era frequentado exatamente pelas camadas mais baixas da sociedade daquele Rio de Janeiro. Mas quem disse que a ralé não gosta de se divertir? Quem disse que é necessário um