Os Dualismos
Os dualismos presentes na obra de Cesário Verde, em geral, não têm (não merecem, no nosso entender), a relevância que se lhes tem querido atribuir, em termos didácticos, prestando-se até, com tal sobrevaloração, um mau serviço ao estudo da obra do poeta (um estudo formal, dirigido à memória), pela passividade que isso provoca nos alunos, desviando-os da inovação, do despertar da consciência e do desempenho crítico.
Estudar Cesário, como estudar literatura, deve ser um ato pessoal e criativo, que se não coaduna com emolduramentos definitivos de quaisquer partes de uma obra.
Mas com isto não se pretende negar as dicotomias, que estão realmente presentes na poesia de Cesário Verde. Eis algumas dessas dicotomias, que importa levar os alunos a descobrirem: oposição entre cidade e campo, favorecidos e desfavorecidos, pobres e ricos, altruístas e orgulhosos, produção industrial e atividade comercial e vida do campo, consumismo e miséria, proprietários e operários, trabalhadores e ociosos, quotidiano urbano e rural, crescimento urbano e abandono rural, saúde e doença (tuberculose, epidemias), meios de transporte tradicionais e modernos (linha férrea, transportes colectivos), isolamento e falta de informação e meios de comunicação social (jornal, telégrafo), domínio do conhecimento e poder e vigência da ignorância e subordinação, operariado (indústria naval, construção civil, transportes, minas, pescas, tabaco…) e poder econômico, real histórico representado e real poético produzido, restos do real e visões do real, sinceridade poética e artificialidade, sentimento e objetividade, imaginário e realidade, emoção e racionalidade, vida e morte, amor e morte, revolução e tradição, espírito burguês e espírito inovador.
Mais especificamente, em O sentimento dum ocidental, repartidos pelas quatro partes que constituem o poema, fazem-se notar os seguintes dualismos:
Parte I - A realidade do mundo exterior e da consciência do poeta. A infelicidade dos que ficam e a