Os dozes de inglaterra
LITERATURA – PRISE/PROSEL – 1ªETAPA
LEITURA DO EPISÓDIO OS DOZE DA INGLATERRA; CANTO VI, ESTROFES 39 A 69 DE OS LUSÍADAS, DE CAMÕES.
PROFESSOR ALESSANDRO SOARES
39
Vencidos vêm do sono e mal despertos;
Bocijando, a miúdo se encostavam
Pelas antenas, todos mal cobertos contra os agudos ares que assopravam;
Os olhos contra seu querer abertos;
Mas estregando, os membros estiravam.
Remédios contra o sono buscar querem,
Histórias contam, casos mil referem.
40
- «Com que milhorpodemos (um dizia)
Este tempo passar, que é tão pesado,
Senão com algum conto de alegria,
Com que nos deixe o sono carregado?»
Responde Leonardo, que trazia
Pensamentos de firme namorado:
- «Que contos poderemos ter milhores,
Pera passar o tempo, que de amores?»
41
- «Não é (disse Veloso) cousa justa
Tratar branduras em tanta aspereza,
Que o trabalho do mar, que tanto custa,
Não sofre amores nem delicadeza;
Antes de guerra, férvida e robusta
A nossa história seja, pois dureza
Nossa vida há-de ser, segundo entendo,
Que o trabalho por vir mo está dizendo.»
42
Consentem nisto todos, e encomendam
A Veloso que conte isto que aprova.
- «Contarei (disse) sem que me aprendam
De contar cousa fabulosa ou nova;
E por que os que me ouvirem daqui reprendam,
A fazer feitos grandes de alta prova,
Dos nacidos direi na nossa terra,
E estes sejam os Doze de Inglaterra.
43
«No tempo que do Reino a rédea leve,
João, filho de Pedro, moderava,
Despois que sossegado e livre o teve
Do vizinho poder, que o molestava,
Lá na grande Inglaterra, que da neve
Boreal sempre abunda, semeava
A fera Erínis dura e má cizânia,
Que lustre fosse a nossa Lusitânia.
44
«Entre as damas gentis da corte Inglesa
E nobres cortesãos, acaso um dia
Se levantou discórdia, em ira acesa
(Ou foi opinião, ou foi porfia).
Os cortesãos, a quem tão pouco pesa
Soltar palavras graves de ousadia,
Dizem que provarão que honras e famas
Em tais damas não há pera