Lusíadas
Encontramos lá uma comédia dos deuses, que poderíamos isolar formando um poema à parte, que tem a sua acçãoprópria com enlace e desfecho, desenrolando-se paralelamente à acção humana. Encontramos uma narrativa da viagem de Vasco da Gama à Índia, com a descrição de certos fenómenos marítimos e de certoscasos típicos de bordo, lembrando de certa maneira os roteiros e a Peregrinação, de Mendes Pinto, e sem entrecho próprio. Encontramos depois uma história dos reis de Portugal, outra história dos heróisportugueses e uma outra história, em forma de profecia, dos feitos da Índia, tudo isto sem ligação orgânica com a acção do poema. Em quarto lugar, encontramos uma pequena enciclopédia geográfica: adescrição do mundo conhecido (Europa, Ásia, África), pormenores da flora e da fauna da Índia, e, abrangendo tudo, a visão de conjunto da «grande máquina do mundo», coisas que lembram a abundantíssimaliteratura geográfica (…) Encontramos ainda episódios soltos de romance de cavalaria (Doze de Inglaterra) e de hagiografia (história de S. Tomé). E, finalmente, há uma margem de comentários pessoais,exortações de moralista (…).
A primeira coisa que salta à vista quando se considera no seu conjunto a factura d’Os Lusíadas é a heterogeneidade dos elementos que os compõem. É uma obra formada poradição, entalhe, incrustação de materiais muito diferentes, que naturalmente se distinguem.
Encontramos lá uma comédia dos deuses, que poderíamos isolar formando um poema à parte, que tem a sua acçãoprópria com enlace e desfecho, desenrolando-se paralelamente à acção humana. Encontramos uma narrativa da viagem de Vasco da Gama à Índia, com a descrição de certos fenómenos marítimos e de certoscasos típicos de bordo, lembrando de certa