lusiadas

Lusíadas - Heterogeneidade

A primeira coisa que salta à vista quando se considera no seu conjunto a factura d’Os Lusíadas é a heterogeneidade dos elementos que os compõem. É uma obra formada por adição, entalhe, incrustação de materiais muito diferentes, que naturalmente se distinguem.
Encontramos lá uma comédia dos deuses, que poderíamos isolar formando um poema à parte, que tem a sua acção própria com enlace e desfecho, desenrolando-se paralelamente à acção humana. Encontramos uma narrativa da viagem de Vasco da Gama à Índia, com a descrição de certos fenómenos marítimos e de certos casos típicos de bordo, lembrando de certa maneira os roteiros e a Peregrinação, de Mendes Pinto, e sem entrecho próprio. Encontramos depois uma história dos reis de Portugal, outra história dos heróis portugueses e uma outra história, em forma de profecia, dos feitos da Índia, tudo isto sem ligação orgânica com a acção do poema. Em quarto lugar, encontramos uma pequena enciclopédia geográfica: a descrição do mundo conhecido (Europa, Ásia, África), pormenores da flora e da fauna da Índia, e, abrangendo tudo, a visão de conjunto da «grande máquina do mundo», coisas que lembram a abundantíssima literatura geográfica (…) Encontramos ainda episódios soltos de romance de cavalaria (Doze de Inglaterra) e de hagiografia (história de S. Tomé). E, finalmente, há uma margem de comentários pessoais, exortações de moralista (…).

António José Saraiva (1946 [1996]: 91) Para a História da Cultura em Portugal, vol. 1, Lisboa, Gradiva Publicações, Lda.

Síntese da heterogeneidade/unidade

Assim, os quatro planos diferentes em que tradicionalmente se divide a obra – plano da viagem, da História , do maravilhoso e do poeta – parecem nem ser suficientes para dar conta de toda essa diversidade de elementos. Além disso, a sobreposição de outros narradores ao narrador principal, que será o próprio poeta, aumenta a complexidade d’Os Lusíadas.
Porém, não resulta daí uma obra heteróclita, sem