Origens da cultura
O “pensamento selvagem” (LÉVI-STRAUSS, 1976) costuma buscar a explicação do real recorrendo às suas origens. São conhecidos os “mitos etiológicos”, através dos quais os povos pensavam o fundamento dos seres narrando seus primórdios. Porém o pensamento selvagem transborda o pensamento mítico: é o funcionamento espontâneo da razão ainda não domesticada por vigilâncias epistemológicas e técnicas metodológicas. Encontra-se, em estado livre, também nas origens da filosofia, quando os pré-socráticos indicavam a ‘arche’, a ‘aitía’ dos seres: se era a água, o fogo, o ar, o ‘àpeiron’. Renasce, com vigor, entre os precursores e iniciadores da antropologia: Hobbes e Rosseau, com o Leviatan e o
Contrato Social: estavam transpondo, para um contexto iluminista, o mito etiológico da Sociedade Política; e até Marx e Engels se movem com inocência nesse Éden quando, levados pela mão de Morgan, saem à busca da “origem da família, da propriedade privada e do Estado”.
Como explicar essa crença na força explicativa das origens? Será que o pensamento exporta ingenuamente para a natureza o hábito que tem de identificar e situar os membros da sociedade através da filiação? Os patronímicos ocorrem em quase todos os idiomas e, com freqüência, substituem o nome próprio; como se saber de quem procede o indivíduo fosse a melhor maneira de designá-lo e conhecê-lo. Não parece óbvio que o ser, nos seus primórdios, revele melhor sua essência que no termo de seu pleno desenvolvimento. Hegel dizia justamente o contrário: o novo, quando surge, é apenas um “conceito” ou um gérmen que não explicitou suas virtualidades e características peculiares. Assim, a filosofia espera, como a coruja, cair o sol para levantar vôo, porque só quando as coisas amadurecem plenamente é que se pode captar toda a sua riqueza inteligível.
No entanto, a fascinação das origens é inevitável. Talvez porque se prenda a uma obscura intuição de que, para explicar uma realidade, se precisa, ao