Origem das máscaras nas manifestações
Parecia o apocalipse. Mas era “apenas” a Polícia Militar enchendo as narinas e os olhos dos manifestantes de gás lacrimogêneo, atirando neles balas de borracha e se esquivando das lixeiras em chamas espalhadas pelas ruas de São Paulo, em junho passado.
Guy Fawkes (quer dizer, sua máscara) estava lá, lutando para revogar o aumento de 20 centavos da tarifa de ônibus; e lá se manteve quando os protestos se viraram contra “tudo isso que está aí” e ganharam o resto do Brasil.
Nesse mesmo período, o onipresente Fawkes foi visto, ainda, em Kuala Lumpur, apoiando o líder da oposição da Malásia; na Colômbia, num ato pela descriminalização da maconha; e em vários outros pontos do planeta tomados por gente indignada. Antes, em 2011, ele acampara em Nova York com o movimento Occupy Wall Street; e assistira à queda de quatro ditadores durante a Primavera Árabe.
Pois é: esse cara de expressão cínica, bigode fino e bochechas rosadas já viveu muita coisa. A fama atual da máscara que sorri para seus repressores deve muito aos hackers e web ativistas do Anonymous, cujas práticas já foram descritas por alguns de seus integrantes como “filha-da-putagem ultracoordenada”.
Retrato do religioso inglês Guy Fawkes (Foto: Hulton Archive / Getty Images)
O embrião do grupo nasceu no fórum digital americano 4chan.org, que, à primeira vista, parece o quarto de um adolescente rebelde. Com alguma paciência, porém, é possível compreender a ordem e o funcionamento dos canais que o formam. O mais polêmico deles é o /b/, atulhado de publicações como fotos de sexo bizarro e de corpos mutilados ou em putrefação.
Publicar esse tipo de coisa era e é a tática dos usuários mais tradicionais do canal, os /b/tards, para afastar novatos e curiosos. A atuação dos /b/tards até 2008 podia ser