On Counter-Transference
Somente para este texto, uso a palavra contra-transferência como um termo que vai abranger todos os sentimentos que surgem no analista sobre o paciente.
Alguns poderão discutir que o uso deste termos não é correcto, pois contra-transferência, simplesmente, é uma transferência para parte do analista. Contudo, sugiro que o prefixo “contra” implica factores adicionais.
Como nota, é importante ressalvar que sentimentos de transferência não podem ser bruscamente divididos daqueles que se referem a outra pessoa no seu direito e não a um pai substituto. Foi muitas vezes mencionado que, nem tudo o que o paciente sente em relação ao analista é devido a um transferência, e que, à medida que a análise progride, o paciente torna-se cada vez mais capaz de “sentimentos reais”. Este aviso demonstra que a diferenciação entre os dois tipos de sentimentos nem sempre é fácil.
Esta nota sobre a contra-transferência foi estimulada por certas observações que eu fiz em seminários e em análises de controlo. Fiquei impressionada pela crença que está espalhada pelos candidatos, que a contra-transferência não é nada mais do que sarilhos. Muitos candidatos têm medo e sentem-se culpados quando percebem que têm sentimentos para com os pacientes, consequentemente, tentam evitar ter algum tipo de resposta emocional e serem o mais desprendidos possível.
Quando investiguei sobre a origem deste ideal de analista “desapegado”, encontrei na nossa literatura algumas descrições de trabalho analítico em que cresce a ideia que um bom analista não sente nada para além de uma benevolência uniforme e suave para com o paciente, e que qualquer amostra de emoção deve ser apagada. Esta leitura poderá vir de uma má interpretação dos textos de Freud, como no caso do estado de alma de um cirurgião quando está a fazer uma operação, ou mesmo a parábola do espelho. As duas leituras mencionadas acima, foram-me apresentadas para justificar o “desapego” do analista.