Psicanalise
Contratransferência: Uma revisão na literatura do conceito
LEOPOLDO GONÇALVES LEITÃO (*)
1. INTRODUÇÃO
Coube a Freud o mérito de ter sido o primeiro a identificar e a descrever o fenómeno da contratransferência. Dos seus comentários sobre este assunto, procederam correntes divergentes que caracterizaram o pensamento e a teorização subsequentes. A sua sistematização, efectuada por Kernberg (1985), Jacobs (1999), e por nós corroborada, comporta duas abordagens. A clássica, que tem como base a tese central de Freud – que remete para a noção de que a contratransferência actua como um impedimento à compreensão (uma forma de resistência inconsciente do analista, um obstáculo – a ser removido) e bloqueia o progresso (e a credibilidade da psicanálise enquanto disciplina científica). Como expoentes principais desta abordagem evidenciam-se autores como: Reich, Glover, Fliess e, com algumas reservas, Gitelson. E a perspectiva oposta, que advoga o seu uso técnico como instrumento de compreensão do inconsciente do paciente, indispensável no tratamento analítico. Aqui encara-se a contratransfe-
(*) Licenciado em Psicologia na Área de Clínica pelo Instituto Superior de Psicologia Aplicada, Lisboa.
rência como um fenómeno «total», uma reacção emocional total do psicanalista para o paciente, durante a situação terapêutica. Ilustram-se como autores principais: Cohen, Fromm-Reichmann, Heimann, Racker, Weigert, Winnicott e, em parte, Thompson. Enquanto Little, ao defini-la, se aproximou da abordagem clássica, o uso que esta autora deu à contratransferência, acercou-se mais da ala «radical» da segunda abordagem supra referida. Menninger e Orr ocupam uma posição intermédia. Distintamente, Louise de Urtubey (1994, cit. in Duparc, 2001) propõe uma organização teórica que discrimina quatro grupos principais de teorias. O primeiro corresponde às teorias clássicas – a contratransferência é vista com incredulidade e considerada como