Oliver twist
“A menina conduz-me diante do leão, esquecido por um circo de passagem. Não está preso, velho e doente, em gradil de ferro. Foi solto no gramado e a tela fina de arame é escarmento ao rei dos animais. Não mais que um caco de leão: as pernas reumáticas, a juba emaranhada e sem brilho. Os olhos globulosos fecham-se cansados, sobre o focinho contei nove ou dez moscas, que ele não tinha ânimo de espantar. Das grandes narinas escorriam gotas e pensei, por um momento, que fossem lágrimas. (...)
Nesse fragmento, o narrador inicia o texto, situando o leitor sobre a cena que será descrita: a menina foi conduzida para ver um leão.A partir desse momento, o narrador descreve a cena com que a personagem deparou-se: um leão velho e doente – veja que o autor fez uso de adjetivos (velho e doente) para caracterizar o leão – o ser descrito (um substantivo). Em seguida, continua a descrição de acordo com as impressões, captadas pelo personagem neste “olhar”.
Nascido em 14 de junho de 1925, o curitibano Dalton Jérson Trevisan sempre foi enigmático. Antes de chegar ao grande público, quando ainda era estudante de Direito, costumava lançar seus contos em modestíssimos folhetos. Em 1945, estreou-se com um livro de qualidade incomum, Sonata ao Luar, e, no ano seguinte, publicou Sete Anos de Pastor. Dalton renega os dois. Declara não possuir um exemplar sequer dos livros e “felizmente já esqueci aquela barbaridade”.(...)
Dedicando-se exclusivamente ao conto (só teve um romance publicado:“A Polaquinha”),
Dalton Trevisan acabou se tornando o maior mestre brasileiro no gênero. Em 1996, recebeu o Prêmio Ministério da Cultura de Literatura pelo conjunto de sua obra. Mas Trevisan continua recusando a