Olhando para as estrelas

1299 palavras 6 páginas
Olhar para o céu, ver estrelas, é um dos atos primordiais que diferem o homem da besta. Algum idiota da objetividade nelsonrodrigueano dirá: “Ora, aí está um tema secundário para se estudar.” Tolo insensível, néscio, decerto. Pois dirigir os olhos para o céu e tentar entender a cor e o brilho das estrelas foi, é e sempre será uma atividade do espírito humano. Arrisco afirmar que essa talvez seja uma das ocupações humanas mais poéticas. E a História, por sua vez, se ocupa do homem e de suas atividades, materiais e imaginárias (DUBY, s/d: 11). Ou não? Assim, advirto que não escrevo este artigo para os néscios: eles passam, passarão.

Para fruir intensamente essa sensação de integração cósmica, era necessário ao homem medieval percorrer a natureza e tentar encontrar nela o simbolismo da divindade ali impresso. O século XIII descobriu a maravilha de observar a natureza e perceber a beleza da criação. A curiosidade científica nasceu dessa capacidade de se espantar, de se maravilhar com o mundo e a vida nele contida. A estupefação do homem medieval não era menor quando ele dirigia seu olhar para as estrelas. Como ele entendia o universo?

Responder a essa pergunta, pelo menos em parte é o objetivo desse texto.

I. A divisão do Universo

“O universo é totalmente entrelaçado”, pensavam eles. Quando algo não ia bem, era necessário perceber a manifestação de suas correspondências, de seus entrelaçamentos. O primeiro lugar que se devia então olhar era o céu. Foi o que fizeram Raul Glaber († 1044) e Ademar de Chabannes (n. 988), historiadores do ano mil. Eles interpretaram os signos do céu. Raul se impressionou com os cometas; eles indicavam o desejo de Deus e a vinda de adversidades:

Durante o reinado do Rei Roberto, apareceu no céu, do lado do ocidente, uma dessas estrelas a que se chama cometas; o fenômeno começou no mês de Setembro, numa tarde ao cair da noite, e durou cerca de três meses. Brilhando com um muito vivo clarão, encheu com a sua luz uma vasta porção

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