Ofício de sociólogo
Em Ofício do Sociólogo, mais precisamente, na segunda parte do livro intitulada de a construção do objeto, Bourdieu, Chamboredon e Passeron fazem algumas considerações sobre a construção do objeto nas ciências humanas. Inicialmente os autores fazem algumas reflexões sobre a neutralidade científica partindo da ideia de “empirismo radical” advindo das ciências naturais. Esse empirismo se propôs à anulação do sociólogo como tal. Tal posicionamento que predominou no início da sociologia (principalmente em Durkheim) com a “determinação” das leis sociais se opõe ao objeto das ciências humanas que se difere do objeto das demais ciências exatas/naturais pela sua subjetividade, afinal, como afirma os autores analisados as ciências humanas abordam “um objeto que fala”, um ser epistêmico.
A neutralidade científica em Bourdieu, Chamboredon e Passeron é percebida como “falsa neutralidade”, analisada a partir da metodologia, operações que segundo Weber seriam “axiologicamente neutras”. Segundo os autores essa premissa fornece “uma nova calção à ilusão positivista”, visto que a subjetividade entra em jogo já a partir do objeto, do pesquisador e, portanto, das escolhas metodológicas realizadas por este. Nesse aspecto os autores se referem às técnicas e a forma através da qual o “objeto é construído” pelo pesquisador. A exemplo, poder-se-ia citar a escolha das perguntas de um questionário. Segundo os autores “não existe gravação neutra, assim também não há perguntas neutras”, visto que parte da escolha das perguntas pelo pesquisador e, por conseguinte, da interpretação das perguntas pela população que poderá entender de formas distintas um conceito presente no enunciado. Por mais fechado que seja, afirma os autores, “o questionário não garante a univocidade das respostas”, mesmo submetendo todos