Ofício do Sociólogo
Para a conquista do fato, faz-se necessário uma ruptura com as pré-noções. Essa ruptura não é fácil, devido à própria influência da linguagem comum edificada no discurso científico, cujos pressupostos são assumidos inconscientemente. Abdicar das pré-noções, porém, significa romper com as ilusões de transparência, implicando, sobretudo, no questionamento da relação pesquisador-objeto, suas motivações e interesses, em última instância, acerca do estudo que pretende empreender.
Para o autor, o saber sociológico é uma construção intelectual constante em oposição ao saber espontâneo. A dificuldade em se livrar das pré-noções é diretamente proporcional ao risco de se cair no profetismo social. Contrariamente, a sociologia possui a tarefa de desvendar as modalidades de atuação das diferentes formas de dominação escondidas nos diversos mundos sociais. É necessário, ainda, voltar-se contra a teoria tradicional, posto que estas, pretensamente universais, tiram da lógica do senso-comum seu projeto fundamental. Bourdieu propõe uma teoria do conhecimento sociológico capaz de superar as armadilhas do objetivismo, determinismo sociológico, do subjetivismo e voluntarismo individualista.
Bourdieu retoma os princípios Durkheim, de que os fatos sociais devem ser construídos para que se tornem objeto de estudo.
Na construção do objeto é preciso separar as categorias que pré-constroem o mundo social e que se fazem esquecer por sua evidência, o que significa levar a campo conceitos sistêmicos, noções que pressupõem uma referência permanente ao sistema completo das suas inter-relações, que subentendem uma referência à teoria. O modelo teórico é reconhecido pelo poder de ruptura e de generalização, depurando as relações que que definem os objetos construídos. A construção do fato social consiste, ainda, em delimitar claramente um segmento da realidade, o que significa, na prática, selecionar determinados elementos de uma realidade