Não quero
Vejo a personalidade como uma embarcação de tripulação imensa, em que cada um gostaria de assumir o leme do navio e o levar para a direção que ele quiser, excluindo os outros presentes. Muitas vezes nossa identidade central se torna refém de um grupo mais forte de vozes que se apropria do leme e muda o rumo do navio para onde quer, por ser mais gostoso.
Vamos tomar uma situação típica de desilusão amorosa: o sujeito se encanta pela garota, se apaixona, mas o caminhar da situação não desemboca no destino que ele queria. Ele não passa de algumas ficadas. Ele quer se desapegar daquela menina pela qual se apaixonou, mas não consegue.
Houve uma divisão de vontades na embarcação. Uma parte acha que ele deve deixar a garota de lado, mas a outra adora devanear em sonhos e planos encantados onde tudo ali é perfeito: transas, conversas, celebrações, ideais e planos. Tudo imaginação megalomaníaca, mas quem liga para isso?
Eis o impasse. Se as duas partes querem e as duas têm propriedade no que falam, qual delas será ouvida pelo capitão do navio?
Vai depender do nível de maturidade geral de todos tripulantes. Se for interessante que toda a tripulação faça um esforço extra para remar com mais empenho até chegar à praia do desapego, ele vai conseguir direcionar gradualmente seus esforços para sua própria vida e seguir em frente.
No entanto, se for uma tripulação preguiçosa, (mal-)acostumada a receber tudo de bandeja, crente que a felicidade é resultado do acaso ou de atos mágicos, tudo será mais difícil. Essa tripulação orgulhosa de si não aceitará sair por baixo da situação e, para reaver o senso de masculinidade do garoto, irá ancorar toda inação futura numa fantasia muito distante.
Enquanto ele sonha com o ideal da mulher perfeita que gostaria de ter nos braços, sua vida ficou parada e exigiu pouco de todos os navegantes.