Novas

Ao Caminhar por este lugar, posso me lembrar das noites frias que passei ao transitar por aqui com medo de que alguém me agredisse ou de quando me deitava junto àquela parede para dormir. Lembro-me que quando comecei a morar na rua, eu tive alguns bons sonhos, sonhos esses que se confundiam com lembranças de tempos que eram ruins, mas como estava vivendo momentos piores, eles tornavam-se os melhores dias que havia vivido até aquele momento, um verdadeiro contraste entre um ruim e o pior momento de minha vida. Somente quem dormiu na rua sabe que apesar de morarmos num país tropical, as noites de inverno em certos lugares são de doer os ossos. Lembro-me, porém, de um frio mais intenso, um frio que até os mortos sentem, sim, aqueles que estão mortos espiritualmente o sentem. Eu sentia um frio na alma, sentia o bafo gelado da morte em minha nunca. Não tinha esperança de envelhecer, muitas vezes quando via outro morador de rua velhinho, surgia um raio de esperança temperado de angústia, pois pensava: posso até envelhecer na rua, mas talvez nunca encontre a felicidade. Um dia, entretanto, uma luz atravessou o meu caminho. Luz que os sábios não compreendem, pois suas mentes estão tão cheias ou cheias de si mesmas que não são capazes de entendê-la. Um dia ela me escolheu, foi rejeitada por outros e escolheu um homem que era rejeitado por todos, sim ela me escolheu. Começarei a contar minha história, mas contarei de onde ela começou, pois antes que meu caminho fosse iluminado eu não tinha história. Meu nome é Lázaro, minha história começa assim...
...Um dia, por volta do meio dia, estava deitado junto ao muro, e estava embrulhado num cobertor velho. Estava com muita fome, pois naquela manhã não tinha conseguido algo para comer. Fechei os olhos por um instante, tentando me concentrar em meus pensamentos e esquecer a fome, mas ela não cessava de me avisar que estava ali. Então abri os olhos e decidi me levantar e fazer uma ronda em busca de comida. Vi duas mulheres vindo em