Nota De Leitura DESCARTES
Lorena Assis Rizério
Descartes – Vida e Obra. São Paulo: Editora Nova Cultural Ltda., 1996, pp. 257-275.
Há já algum tempo eu me apercebi de que, desde meus primeiros anos, recebera muitas falsas opiniões como verdadeiras, e de aquilo que depois eu fundei em princípios tão mal assegurados não podia ser senão mui duvidoso e incerto; de modo que me era necessário tentar seriamente, uma vez em minha vida, desfazer-me de todas as opiniões a que então dera crédito, e começar tudo novamente desde os fundamentos, se quisesse estabelecer algo de firme e de constante nas ciências. (p. 257). Com esse pensamento, Descartes inicia suas meditações acerca da veracidade das coisas. Considerando ele estar em estágio de maturidade apto a uma tarefa de nível tão elevado e com a mente desligada de preocupações, dedica-se a revisar suas opiniões. Para tanto, toma a dúvida como princípio fundamental do seu método, e põe-se a rejeitar todas as crenças que apresentem algo de dubitável. A partir daí, desencadeia um processo de destruição do conhecimento formulado sobre informações recebidas passivamente, sem questionamentos, oriundas do senso comum, logo, um saber duvidoso. Isso porque acreditava que os indícios de dúvida afastam o homem da verdade, esta que é necessária na elaboração do conhecimento científico. Ademais, esse uso da dúvida denota certa cautela em relação aos erros a que nos podem conduzir os sentidos. Ao desconstruir esse saber incerto, quis encontrar as causas primárias e, assim, conhecer a verdade das coisas, para então reconstruir sua ciência, agora firmada em solos estáveis.
Tudo o que recebi, até presentemente, como o mais verdadeiro e seguro, aprendi-o dos sentidos ou pelos sentidos: ora, experimentei algumas vezes que esses sentidos eram enganosos, e é de prudência nunca se fiar inteiramente em quem já nos enganou uma vez. (p. 258). Deste ponto em diante, a Meditação Primeira trata dos motivos pelos quais