Nomes da química
(e quase nunca lembrados)
Attico Chassot
Neste número de Química Nova na Escola, a seção “História da Química” amplia sua abrangência. Passa agora a acolher artigos que apresentem discussões e experiências sobre as diferentes leituras possíveis para o uso da história da ciência em sala de aula. Este texto quer iniciar essa abertura mostrando com que freqüência (não) falamos de nomes que pouco ou nada dizem para os estudantes. Maomé, mulheres e a ciência, vultos da humanidade, vultos da química
ssim como as imponentes catedrais medievais ou como os modernos shoppings centers foram construídos por milhares de trabalhadores anônimos e por alguns poucos arquitetos, todos sabemos que a química — ou até, numa leitura mais ampla, a ciência — não é apenas o produto do trabalho de uns poucos cientistas, mas das seculares tarefas de muitos que se dedicaram à formação dos conhecimentos da humanidade. Mesmo que se defenda uma história da ciência que foi/é construída por muitos anônimos (por exemplo, não sabemos o nome do inventor da roda, indiscutivelmente um dos inventos mais importantes de todos os tempos) em oposição àquela marcada pelo culto aos nomes de pessoas, sabemos que em todos os tempos houve homens e mulheres (estas, por sabidas razões, uma expressiva minoria — ver “Para saber mais”) que foram decisivos na construção da ciência. Sobre a quase ausência de mulheres na história da ciência, não deixa de ser significativo que, ainda nas primeiras décadas do século XX, a ciência estava culturalmente definida como uma carreira imprópria para a mulher. Houve aquelas, por exemplo, que publicaram, no século XIX, trabalhos matemáticos com pseudônimos masculinos, não apenas para
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merecer créditos na Academia, mas até para conseguir que os mesmos obtivessem um locus para vir à luz. Quando se fala na ausência de nomes de mulheres, é importante referir aqui o nome da matemática neoplatônica Hipátia (370-415), que trabalhava na Biblioteca de