Nietzsche e a celebração da vida
A Interpretação de Jörg Salaquarda
Resumo: O objetivo que aqui se persegue é o de apresentar ao público brasileiro a interpretação inovadora que Jörg Salaquarda faz da filosofia de Nietzsche e, em particular, do pensamento do eterno retorno do mesmo. A partir do exame de "A concepção básica de Zaratustra", o primeiro texto de Salaquarda a ser publicado no Brasil, conta-se fazer ver a relevância de seu trabalho filosófico.
"Não quero acusar, não quero nem mesmo acusar os acusadores. Desviar o olhar: que seja minha única negação! Em suma, quero em algum momento por uma vez ser apenas aquele que diz-sim!"
Dos textos de Nietzsche, Assim falava Zaratustra é sem dúvida o mais controvertido. O leitor sente-se de imediato atraído por uma sucessão de parábolas que evidenciam o talento estilístico do autor; deixa-se envolver numa teia de imagens oníricas que revelam episódios de sua biografia; e acaba arrebatado por uma rede de discursos que põem a nu seus experimentos filosóficos. Diversas são as leituras que o livro suscita; de ordem variada os trabalhos a que ele se presta.
O estilo que Nietzsche então adota é duplamente específico; constitui uma exceção no contexto da escrita filosófica em geral e, outra, no conjunto de seus próprios escritos. No Nascimento da tragédia e na Genealogia da moral, ele opta pelo discurso contínuo; nas Considerações extemporâneas, escolhe o tom polêmico; no Ecce homo, assume a forma autobiográfica; nos Ditirambos de Dioniso, adota o recurso poético; em outros textos, apresenta máximas vigorosas e veementes; e na maior parte de sua obra talvez, privilegia o aforismo como modo de expressão.
À primeira vista, a nova linguagem que o filósofo inventa em Assim falava Zaratustra parece uma mistura de "verdade" e "poesia". E assim teriam razão os que defendem a idéia de que ele não passa de literato ou poeta. Desta perspectiva, seria possível abordar o livro como um "romance de aventuras", uma