Necessidade
Sinceramente, o que sempre me encantou nas festas foi o momento de perigo em que a adrenalina se põe a funcionar disparadamente.
Os mais velhos hão de se lembrar que os “hors d’oeuvres” ou canapés vinham sempre servidos em bandejas de prata. Há quase 30 anos, quando começamos a fazer festas, surgiram as entradas servidas em vidros ou cristais, com um pequeno enfeite florido ou um ramo de melindre.
Foi um achado. Em meses não existia em São Paulo outra coisa senão vidro. Tudo igual. Fomos tomando uma implicância surda contra aquela novidade, mas o mal já estava feito. Pegou. Ora coberto de folhas, ora de sal grosso, ora de pimenta-do-reino, cravos fragrantes, alecrins.
E como nasceu uma ideia tão brilhante?
Um cliente árabe resolveu fazer uma festa bem brasileira para surpreender a família que só comia comida da mãe —as esfihas, os deliciosos quibes. Ele iria obrigá-los a comer coisa da terra, um coquetel para lá de brasileiro, bijus, empadinhas, essas coisas.
Ao ver a coragem dele bem no dia do seu aniversário quisemos fazer uma surpresa e juntamos um tanto de charutinhos de folha de uva, berinjelinhas recheadas com nozes e mais não me lembro.
Não contamos com a verdadeira paixão dos convidados pelo seu alimento de todo dia. Caíram sobre o coquetel árabe como lobos vorazes. Comida, até tínhamos, mas não havia como servir tudo. Faltavam pratos para colocar as coisas.
Como havíamos posto os canapés em peneiras e elas eram vazadas, deixando cair migalhas no chão, mandamos fazer numa vidraçaria vidros recortados que se adaptavam ao fundo delas à perfeição. Um raio me iluminou na hora. Separamos os vidros das peneiras e em lugar de uma peneira ficamos com uma peneira e um vidro, exatamente o dobro. E, como era novidade, era bonito. Em poucos meses