Narrativa
A freada repentina do automóvel fez com que Isaac desperta-se de seu sono, abrangendo sua nova realidade, sua nova pátria. Havia sonhado o mesmo sonho que a tanto o assombra, desde sua fuga da Alemanha há dois anos, a expressão de fúria no rosto daquele homem ainda permanecia viva em sua memória, o choro de sua irmã continuava ecoando em seus ouvidos, e a imagem do corpo de sua mãe ao chão empapado de sangue jamais se desvanecia. O motorista permaneceu a viagem em silêncio, Isaac Gross por ser uma pessoa de poucas palavras não se incomodou, até por que, seu português ainda era bem limitado. As belas paisagens do Brasil ainda surpreendiam o alemão, e por mais que viesse a sentir falta das ruas de Frankfurt, não pensava em voltar, seus antigos vizinhos haviam lhe rejeitado por ser judeu, não importava ter também sangue alemão, como naquele homem, havia apenas ódio.
- Bastardo de sangue impuro – esbravejava em uma voz gutural, que transparecia a insanidade de sua existência.
- O senhor não tem honra, vendeu-se para essa gente – lembrava-se de ter dito e cuspido aos pés do monstro, isso havia lhe custado dois dentes e o envio para Auschwitz. A sorte lhe sorriu quando foi comprado por Oskar Schindler, alguns acreditaram ser o próprio Messias enviado para libertar os judeus dos nazistas, se era não sabia, mas foi Schindler quem o ajudou a vir para o Brasil junto com alguns companheiros. O carro parou, haviam chegado a casa da família Castro, onde exerceria o seu ofício de jardineiro, esperando por uma renovação em sua vida, viveria lembrando dos sorrisos de sua irmã, dos carinhos de sua mãe, e esperar um dia perdoar seu pai pelo que