musicas
Amou daquela vez como se fosse a última
Amou daquela vez como se fosse o último
Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a única
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Sentou pra descansar como se fosse príncipe
Sentou pra descansar como se fosse pássaro
E flutuou no ar como se fosse pássaro
E flutuou no ar como se fosse sábado
E flutuou no ar como se fosse príncipe
E acabou no chão feito um pacote flácido
E acabou no chão feito um pacote tímido
E acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego
Morreu na contramão atrapalhando o público
Morreu na contramão atrapalhando o sábado
Este poema, além de sua extraordinária construção artística, reflete uma face trágica do homem, visualizado num momento de vida (em “construção”). Mas, ao construir, o homem é destruído por todo um sistema desumano, por toda uma concepção egoísta. Passa por um processo de coisificação, desde a primeira estrofe:
Amou daquela vez como se fosse máquina
O que se confirma pelo resultado desse processo:
E acabou no chão feito um pacote flácido
E acabou no chão feito um pacote tímido
E acabou no chão feito um pacote bêbado
E é reafirmado na última estrofe, em que o ser humano é visto, diante da coletividade, de forma irônica, já que o sábado é um dia convencionalmente feito para o lazer. E esse homem, que nem nome tem, tão coisa que é, tão nada, não poderia ficar impune. Sua desgraça foi morrer num sábado, na contramão, atrapalhando a vida, os divertimentos. Contudo, esse anônimo atrapalhou a sociedade, perturbou o sistema, destruiu o instituído, desestabeleceu o estabelecido, desfez o que estava feito, desarmou o armado. Por isso mesmo, Construção “desencanta o