mulheres
Século do Ouro
Henrique Rafael A. Costa
Apresentação
O resgate das mulheres como sujeitos da história tem propiciado trabalhos surpreendentes, mesmo quando produzidos a partir de uma documentação conhecida. O olhar é o que os tornam inovadores. Nesse sentido, qualquer relato narrado (ou re-narrado) sob a perspectiva feminina torna-se um trabalho de reinvenção. Com a história das Minas
Gerais do “Século do Ouro” não é diferente. As mulheres das Gerais agiram, pensaram, influenciaram, sentiram e fizeram parte da cultura mineira, dividindo, com os homens, a responsabilidade pela direção dos acontecimentos e pelo desenrolar da história da então capitania. Entretanto, diferenças devem ser observadas. As mulheres foram tratadas de forma específica pela administração colonial, pela Igreja, pela legislação. Mesmo dentre as mulheres, observando a origem social, o tom de pele, dentre outros, chega-se a realidades ainda mais específicas. O presente trabalho pretende, portanto, trazer à tona as mulheres em suas múltiplas facetas: sexual, cultural, pública, racial e social, percebendo como elas fizeram para negociar e afirmar sua presença nas vilas e arraiais mineiros durante o século do ouro.
Sexualidade Feminina: entre o recato e a devassidão
A sexualidade, de forma geral, foi algo sempre sentido, nunca revelada, mas as vezes externada no período do Brasil colônia. Homens e mulheres possuíam sua intimidade pretensamente organizada, devassada, controlada pela Igreja Católica. As diretrizes eram claras, o sexo permitido era aquele que possuía “moderação, freio dos sentidos, controle da carne”, era o que se determinava para os homens e mulheres, “pois o ato sexual não se destinava ao prazer, mas à procriação de filhos (ARAÚJO, 2004: p. 52)”. Obviamente, tal moderação e controle eram muito mais rigorosos com o sexo feminino, que, segundo a tradição cristã, era sempre mais propenso