Mulheres de holanda
Discutir temas femininos é, no mínimo, uma iniciativa bastante polêmica, uma atitude que muitos considerariam antiquada, outros desnecessária ou irrelevante. Mas o fato é que, goste-se ou não, certo ou errado, as questões em torno do mundo feminino mobilizam espíritos e mentes nos mais variados campos de manifestação da criatividade humana. Em se tratando de Chico Buarque, temos a oportunidade de experimentar através de suas melodias e letras, que falam do nosso tempo, o cotidiano de nossas vidas. Chico é visto como um artista popular, mas um popular cuja qualidade artística é capaz de nos elevar o espírito, de nos emocionar, ao mesmo tempo, nos fazer refletir. Primeiramente traçamos o perfil que o compositor construiu ao longo de sua carreira, mostrando suas variadas facetas. Chico, o amante; Chico, o trovador; Chico, o malandro; Chico, o político; Chico, o cronista. Mas são as incursões na alma feminina, que constituem um dos traços mais característicos da obra do compositor, que abordaremos neste estudo. É na visão de homem esclarecido do seu tempo que Chico Buarque consegue pôr-se no lugar da mulher. Com extrema sensibilidade , sem partir de um ponto de vista estritamente masculino, mas usando o seu eu-masculino desnuda a alma feminina nos seus afetos e desafetos, nas histórias de amor e desamor. É no contexto de uma relação afetiva que se flagra o fundamental do feminino. Assim, desde a mulher ingênua, da janela, até a prostituta Geni, temos a poderosa lírica de Chico Buarque, mostrando a mulher em várias vidas e tratando sobretudo do desejo humano.
1. BIOGRAFIA No dia 19 de junho de 1944, na Maternidade São Sebastião, no Largo do Machado, Rio de Janeiro, nasce Francisco Buarque de Hollanda, o quarto dos sete filhos do historiador e sociólogo Sérgio Buarque de Hollanda e da pianista amadora Maria Amélia Cesário Alvim. Aos cinco anos de idade parece surgir seu