Motivo
Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste: sou poeta.
Irmão das coisas fugidias, não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias no vento.
Se desmorono ou se edifico, se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.
(Cecília Meireles)
Análise
No poema o eu lírico aparenta ser alguém que se preocupa em viver apenas o presente sem se preocupar com o passado ou o futuro . Se apresenta como uma pessoa sonhadora sem perspectiva definida (sendo uma eterna sonhadora/poeta) que procura não se envolver demonstrando ser um individuo imparcial e indiferente a sentimentos.
Paralelamente à imagem de uma pessoa definida e impenetrável, o eu lírico se revela cheio de dúvidas sobre quem realmente é e qual o sentido de sua existência,buscando uma vida plena através da liberdade.
O eu lírico se julga como algo passageiro, ‘’um breve instante’’, e busca se eternizar através das palavras, sendo um poeta seus versos permanecerão eternos, e isso o conforta perante toda sua dúvida.
Cecília Meireles
Cecília Benevides de Carvalho Meireles nasceu no bairro da Tijuca, Rio de Janeiro, em 7 de novembro de 1901, filha dos açorianos2 Carlos Alberto de Carvalho Meireles, um funcionário de banco e Matilde Benevides Meireles, uma professora.1 Cecília Meireles foi filha órfã criada por sua avó açoriana, D. Jacinta Garcia Benevides, natural da ilha de São Miguel. Aos nove anos, ela começou a escrever poesia. Frequentou a Escola Normal no Rio de Janeiro, entre os anos de 1913 e 1916 e estudou línguas, literatura, música, folclore e teoria educacional.
Em 1919, aos dezoito anos de idade, Cecília Meireles publicou seu primeiro livro de poesias, Espectros, um conjunto de sonetos simbolistas. Embora vivesse sob a influência do Modernismo,