Moral e revolução - Leon Trotsky
Leon Trotski
1936
Fonte: The Marxists Internet Archive
Moral e Revolução - Capítulos 10 a 16
Eflúvio Moral
Nos períodos de reação triunfante, vêem-se os senhores democratas, social-democratas, anarquistas e outros similares representantes da esquerda segregar moral em dose dupla, da mesma maneira que as pessoas transpiram mais quando estão com medo. Repetindo, à sua maneira, os dez mandamentos ou o sermão da montanha, estes moralistas dirigem-se menos à reação triunfante do que aos revolucionários perseguidos, cujos "excessos" e cujos princípios "amorais" "provocam" a reação e fornecem-lhe uma justificação moral. Haveria, entretanto, um meio elementar porém seguro para evitar a reação: esforço interior, a regeneração moral. Amostras de perfeição ética são distribuídas gratuitamente em todas as redações interessadas.
Essa pregação tão grandiloquente quanto falsa tem a sua base social de classe na pequena burguesia intelectual. A sua base política reside na impotência e no desespero diante da ofensiva da reação. A base psicológica no desejo de superar o sentimento da própria inconsistência usando uma barba postiça de profeta. O procedimento preferido pelo filisteu moralizante consiste em identificar a conduta da revolução com a da reação. Analogias formais garantem o sucesso desse procedimento. O czarismo e o bolchevismo tornam-se gémeos. Podem-se também descobrir gémeos no fascismo e no comunismo. Pode-se redigir uma lista das características comuns ao catolicismo - ou mais especialmente ao jesuitismo - e ao comunismo. Da mesma maneira, Hitler e Mussolini, por seu turno, valendo-se de um método perfeitamente análogo, demonstram que o liberalismo, a democracia e o bolchevismo não são senão manifestações diversas de um único e mesmo mal. A ideia de que o estalinismo e o trotskismo "no fundo são idênticos" encontra cada vez maior aceitação, pondo de acordo liberais, democratas, católicos devotos, idealistas, pragmatistas,