MOL A
Política ontológica. Algumas ideias e várias perguntas1
Annemarie Mol
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Nunes, João Arriscado e Roque, Ricardo (org.) (2007/no prelo) Objectos impuros.
Experiências em estudos sociais da ciência. Porto: Edições Afrontamento. Tradução de Gonçalo Praça. A versão editada pode ter pequenas alterações. Publicado originalmente como “Ontological Politics. A Word and some questions”, in Law,
John e Hassard, John (org.) (1999) Actor Network Theory and After, Blackwell/The
Sociological Review.
Gostaria neste capítulo de levantar algumas perguntas que têm a ver com política ontológica.2 Têm a ver com a forma como o “real” está implicado no “político” e vice-versa. A iconoclastia da teoria do actor rede, e de muitas outras teorias correlatas, pode ter já derrubado a tradicional divisão entre os dois; mas está ainda longe de ser claro o significado que a divisão pode ter noutros domínios de actividade.
Penso nas implicações que tem na vida tal como é vivida em diferentes locais e situações: nas políticas estatais, nos movimentos sociais, na formação tecnocientífica. E penso no que poderá ela sugerir para lidarmos com as interferências entre ambos. Para interferirmos.
Política ontológica é um termo composto. Refere-se a ontologia – que na linguagem filosófica comum define o que pertence ao real, as condições de possibilidade com que vivemos. A combinação dos termos “ontologia” e “política” sugere-nos que as condições de possibilidade não são dadas à partida. Que a realidade não precede as práticas banais nas quais interagimos com ela, antes sendo modelada por essas práticas. O termo política, portanto, permite sublinhar este modo activo, este processo de modelação, bem como o seu carácter aberto e contestado.
De facto, sempre se admitiu que a “realidade” não é inteiramente imutável. É este o ponto de partida da tecnologia – e, sem dúvida, da política. Ambas as esferas assentavam no pressuposto de que o mundo podia ser dominado, modificado, controlado. Adoptando as