Modelo de Cronica
A partida contra o Betim valia mais do que três pontos. Representava mais do que outro triunfo em 2013. Para o Santa Cruz tinha valor de final de Copa do Mundo. Para sua torcida tinha sabor de redenção. Para a história do clube de 99 anos, era a salvação no ano do centenário.
Seis anos haviam se passado entre a terceira e quarta divisão. Momentos de raiva e esperança se misturaram nestes 2190 dias de agonia coral. Qualquer torcida do mundo teria desistido. Não a Tricolor. O meteoro que o Santa Cruz havia se tornado era inexplicável. Da Série A ao inferno da Série D em quatro anos. Nada de conexões entre as divisões. Apenas breves e vergonhosas escalas. Erros atrás de erros e a criação de um monstro que talvez só seja enxergado em alguns anos.
O gol do acesso não poderia ter sido de outra pessoa. Tinha que ser de Flávio Caça-Rato. Tinha de ser de alguém próximo daquele “povão”. Tinha que ser do jogador limitado tecnicamente, mas que representava a multidão. Após balançar as redes de colocar o time de volta à Série B, Caça não deveria ter voltado ao jogo. Ele podia ter ficado na arquibancada comemorando. Tinha que ficar no meio da massa, pois o destino já estava selado.
Poucos se lembram do Corinthians que ficou 20 anos sem vencer títulos, mas aquele clube aos poucos foi se igualando ao Flamengo em número de torcedores por conta do fanatismo da massa que o empurra. Tudo fruto de um longo e incomodo jejum de títulos. O Santa Cruz segue, silenciosamente, o mesmo caminho.
Os 60 mil torcedores presentes, no borderô, pois ali havia mais de 70 mil pessoas com facilidade, são a prova disso. É impossível explicar o que move essa torcida. É um misto de paixão masoquista com fanatismo exacerbado. Basta sentar no cimento no José do Rêgo Maciel que mil histórias de paixão e loucura serão ouvidas.
De crianças que foram levadas ao estádio com apenas 30 dias de nascidas até pessoas que atravessam o estado para assistir uma partida de Série C.